A Bets Magazine acabou de chegar ao mercado e na sua primeira edição convidou-me para uma agradável conversa, onde partilho um pouco do meu percurso enquanto trader, a minha análise quanto ao atual estado das apostas desportivas no Brasil e as minhas expectativas face ao futuro.

Espero que gostem!

Bets Magazine: Depois de muito tempo fora das redes sociais você voltou com o seu diário. O que te fez retornar?
Eu fiquei afastado durante muito tempo por conta da situação da legislação de Portugal. Hoje eu já tenho mais seguidores no Brasil do que em Portugal até, mas durante muito tempo eu tive mais seguidores portugueses, então era triste partilhar as coisas do trading e uma parte dos apostadores não poderem aplicar aquilo que eu explico. Naquele momento senti que era melhor estar mais reservado e não compartilhar o meu conhecimento, mas fui recebendo cada vez mais pedidos, tanto do Brasil quanto dos próprios traders portugueses, que também arranjaram formas de apostar na Betfair. Partilhar meu conhecimento é uma coisa que eu gosto, é gratificante para mim, então eu decidi reeditar um tópico que causou muito interesse há 7 anos. Uma vez eu fiz esse diário dos jogos que eu trabalhava na Espanha, em Portugal, e agora, para ir de encontro aos apostadores brasileiros que me seguem, decidi fazer esse teste com o diário no Brasil.

Bets Magazine: Você sente alguma diferença na repercussão que tinha há 7 anos para a repercussão que tem hoje?
É difícil responder essa questão. Em Portugal eu fiquei muito conhecido, apareci muitas vezes na televisão. A diferença é que nós em Portugal somos um país relativamente pequeno se comparado com o Brasil. Eu tenho a impressão de que no Brasil, apesar de não ser tão conhecido, uma porcentagem pequena do país em números concretos é um número maior até do que o de Portugal. Eu diria que de 5/6 anos para cá isso ficou mais intenso, mas com o Brasil sinto mais interações, comentários, perguntas e pedidos.

Bets Magazine: Com o que você acha que ainda pode contribuir com aqueles que querem ganhar dinheiro com o trading?
 Acredito que passando o meu conhecimento e minha experiência, como eu tenho feito até agora, tudo de uma forma honesta. Há um lado negativo nas redes sociais e no poder dado a cada pessoa – coisa que antes não havia – e isso me entristece. Vejo muitos esquemas, muita gente que não é apostador, que nem mesmo sabe apostar, vendendo dicas ou cursos, tentando enganar os outros. Acho que a melhor maneira de passar a mensagem e poder ensinar outras pessoas é ser honesto, que é o que eu sempre tentei ser e sempre fui ao longo da minha vida ao transmitir o meu conhecimento. Eu nunca menti, nunca disse para virem até as minhas apostas para ficarem ricos, nunca usei aquela típica frase “ganhe dinheiro sem sair do sofá”. Eu sempre expliquei que apostar é divertido (ou costuma ser para a maioria das pessoas), mas que, por outro lado, a maioria dessas pessoas não vai ganhar dinheiro com as apostas, e elas devem estar preparadas para isso. Sempre incentivei que testem com pouco dinheiro, sem criar grandes expectativas, mas que testem. Gostaria que essa forma estivesse mais espalhada pelos grupos, pelo mundo das apostas em geral, e acho que quanto mais pessoas tiverem esse tipo de discurso sincero, melhor será.

Bets Magazine: Você acredita que já atingiu seu ápice como apostador? Caso não, o que você ainda pretende melhorar ou onde pretende chegar?
Eu já dei muitas entrevistas, mas nunca tinham me feito essa pergunta, e acho muito importante. Acredito que ainda não cheguei ao ponto alto da minha carreira, e digo isso por várias razões. Gravo meus vídeos trabalhando há muito tempo, e no início eu não tinha softwares de gravação de tela, então colocava câmeras de vídeo apontadas para a minha tela. Quando vejo esses vídeos agora, 10 anos depois, eu penso: ‘e pah, se eu soubesse naquela altura o que eu sei hoje seria tão mais fácil ganhar dinheiro’. Ou seja, o mercado está sempre a crescer, está cada vez mais eficiente e isso obriga nós apostadores a sermos cada vez melhores e mais eficientes também. Eu tenho a cada dia mais noção de que hoje sou um apostador melhor do que eu era há um ano, que por sua vez era melhor do que o Paulo de dois anos atrás, e acho que isso continua. Eu tenho sempre a aprender e acho que daqui a um ano serei melhor do que sou agora, por isso acredito que não cheguei ao limite ainda. Em resumo, não vejo um limite, acho que a melhor resposta é essa.

Bets Magazine: Você certamente sabe que é bastante admirado e tem muitos fãs no Brasil. Já veio para cá ou pretende vir em algum momento?
Eu gostaria de ir ao Brasil, mas vou ser honesto: o que me assusta mais é viagem. Não propriamente o medo do avião cair, mas tenho receio de ficar seriamente aborrecido no voo durante tantas horas. É claro que já tive vários convites para ir, mas me assusta pensar na viagem. Outra razão é que é difícil eu conseguir ter uma semana em que não tenha jogos para trabalhar, vão sempre aparecendo oportunidades. Tem um período de férias que eu dedico mesmo à minha família e outras coisas que normalmente não costumo fazer por causa do trabalho, então aproveito esses dias seguidos. Ir ao Brasil implica em pelo menos uma semana em que eu não poderei fazer o meu trabalho, então o meu custo de oportunidade para a viagem é muito caro. Por tudo isso somado que ainda não fui, mas gostaria muito de ir.

Bets Magazine: Entre um bom analista de jogo e um bom analista de mercado, como você se dividiria?
Eu acho que é uma mistura dos dois, pois todas as minhas entradas tem esses dois componentes. As duas são importantes, e em determinados momentos há uma que se sobrepõe à outra, mas não poderia dizer que uma é mais importante. Dito isto, se eu tivesse que escolher apenas uma acho que seria a do mercado, eu percebo ainda mais o mercado do que o jogo.

Bets Magazine: Você já teve uma bad run tão grande a ponto de te fazer rever seu modelo de trabalho?
Sim, muitas vezes. Eu acho que aquela que mais me marcou e que eu já partilhei foi uma vez que eu tive 5 pênaltis seguidos em que os meus jogadores ou falharam ou, por exemplo, eu estava a favor de uma equipe e essa equipe falhou o pênalti. Isso tudo aconteceu em um só mês, ou seja, nesse período eu não ganhei dinheiro, e isso custou muito. Nesses momentos eu pensei “será que o mercado virou contra mim? Será que esses anos todos tenho tido sorte e agora acabou? Será que tem alguém mais inteligente que eu? Será que não cresci tão rápido quanto o mercado cresceu?”. Sim, já me questionei várias vezes. É nessas alturas que é importante ter um histórico e poder olhar para ele, analisar com calma e perceber que faz mesmo parte da estatística. Outras coisas não são, como eu notar que tenho ali uma oportunidade de melhorar e evitar de cometer o mesmo erro outra vez, mas grande parte dessas bad runs são mesmo estatística e vão acontecer. Por melhor que nós façamos as coisas, é impossível que durante um longo prazo não falhe alguma vez.

Bets Magazine: Hipoteticamente, se o trading acabasse hoje e você precisasse viver das apostas punter, você acha que teria sucesso?
A resposta direta é sim, mas não seria isso o que eu faria da minha vida. Existem muitas outras coisas que eu gostaria de fazer, e acho que se o trading acabasse eu escolheria elas. Gosto muito de carros, gostaria de entrar nesse ramo e tenho jeito para isso de buscar carros antigos, restaurá-los e vender. Adoraria fazer outras coisas que não as apostas, e só não faço porque continuo completamente apaixonado pelo trading. Já as apostas punter eu continuo a fazer, mas nessa altura devem representar entre 1 a 2% daquilo que ganho, ou seja, já nem me dou ao trabalho de dedicar muito tempo.

Bets Magazine: Já tentou trading em outras modalidades além do futebol?
Eu tentei logo no princípio. Fiz trading em cavalo, futsal, tênis e outros, mas percebi que eu tinha mais jeito para o futebol mesmo, então decidi me especializar nessa modalidade. Com isso não quero dizer que o futebol seja o melhor esporte para fazer trading, apenas é aquele que eu melhor conheço e me adaptei. Eu realmente tentei outras modalidades só no começo, estou no trading há 12 anos, então há 11 anos que só aposto em futebol, nunca mais fiz qualquer aposta em outro mercado.

Bets Magazine: Você acredita que fará trading por mais quanto tempo?
A resposta depende de alguns pressupostos. O número 1, que é o mais importante, é: a Betfair continua como está agora e eu me vejo fazendo isso pelo resto da vida. Eu gosto muito do que faço e não sinto sinais de cansaço, estou sempre ansioso para que comece o primeiro jogo da época, continuo a ter aquele prazer de fazer trading e continuo a ficar ansioso quando não estou fazendo trading. Antes das apostas tive muitos outros empregos, trabalhei no McDonald’s, em construção de obras, e em todos eles eu tinha aquela sensação de olhar para o relógio e calcular quantas horas ainda faltavam para acabar, e com o trading isso nunca aconteceu. Eu não sinto que é um trabalho, é uma coisa que eu gosto mesmo de fazer. Isso é o que me preocupa mais, nós termos Betfair para sempre.

Bets Magazine: Você tem outros negócios além do trading?
Sim. Desde o início da minha carreira como apostador era algo que eu tinha que fazer. Quando comecei não havia apostadores conhecidos, eu não tinha dinheiro para investir, o que eu tinha era tempo. Ao investir mais do meu tempo nos mercados da Betfair eu estava fazendo algo que eu não sabia se era possível, pois o conceito de ganhar dinheiro de forma consistente não existia quando eu comecei, então o grau de incerteza era mesmo muito grande. Para além disso, percebi que ia ser muito complicado, quer para mim quer para a minha namorada, não saber quanto a gente ia ter disponível no final do mês (ou até mesmo se ia ter). Então, o que defini desde o princípio é que o dinheiro que ganho das apostas eu nunca vejo diretamente, ele vai para ser investido em outros negócios, seja em ações, seja em imóveis, e é com o dinheiro que eu recebo dos outros investimentos que eu planejo a minha vida. Ou seja, se eu perdesse o meu dinheiro todo nas apostas hoje, a minha vida não se alterava em nada, e quando eu ganho muito dinheiro nas apostas também não muda nada. Esse descanso que eu tenho para poder trabalhar é fundamental, porque eu nem tenho medo de arriscar, logo que a minha vida não depende das apostas, e também não fico eufórico quando ganho. Ou seja, é mais fácil manter meu controle emocional, que é um aspecto muito importante nas apostas.

Bets Magazine: Como você vê o cenário do trading e das apostas no Brasil? E em Portugal?
Está a crescer, e eu posso dizer que quando a Betfair veio para Portugal ainda não existia qualquer cliente, e nós com a Academia das Apostas e com a exposição que eu ganhei transformamos Portugal. Éramos o terceiro ou quarto país com mais dinheiro na Betfair do mundo. O Brasil também está crescendo muito, não sei se a Betfair estará com algum receio de investir mais aí com medo de que aconteça o que aconteceu em outros países da Europa quando vier a regulamentação. Acho que nessa altura o trading no Brasil é um ponto de interrogação, vai depender sobretudo das leis quando vierem e como vão abordar as apostas. Tirando essa parte legal, que é a maior incógnita, não tenho dúvidas de que há muito interesse dos apostadores brasileiros e que há uma cultura e potencial enorme para termos grandes apostadores e traders do Brasil.

Bets Magazine: Gostaria de deixar uma mensagem para nossos leitores?
Que desfrutem desta nova revista, que desfrutem desta publicação, e que tenham boa sorte nas apostas deles!

 

E vocês já conhecem a Bets Magazine?

 

 

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