Reportagem do Jornal de Notícias de 29 de Agosto de 2016.

O fundador da Associação Nacional de Apostadores Online (ANAon), criada em 2012, é natural do Porto e vive entre Londres e Madrid há oito anos, por causa da actividade profissional: fazer apostas desportivas na área do futebol. Paulo Rebelo, 34 anos, era um incompreendido quando começou a dedicar-se às apostas. Hoje, invejam-no.

Para estar em cima da transmissão dos jogos, começou por mudar-se para Espanha, próximo da fronteira. Mas rapidamente percebeu que precisava de estar perto das grandes ligas. “Da Liga inglesa, porque tem a maior liquidez de todo o Mundo, e da liga espanhola, porque tem o Real Madrid e o Barcelona”.

Residindo nessas capitais, conseguia assistir aos jogos com segundos de antecedência, o que determina o sucesso da aposta e da sua alteração à medida que a partida evolui. Tudo a uma velocidade estonteante.

O seu trabalho baseia-se em probabilidades, que, por sua vez, se sustentam em informação que vai reunindo sobre os jogos e sobre os atletas. “Se um jogador se lesiona, isso vai fazer com que seja menos provável que ganhe”.

Paulo Rebelo era miúdo quando se sentiu fascinado pelo prazer da aposta. Mais tarde, na sequência do curso da Faculdade de Economia da Universidade do Porto que frequentou e “onde era um dos 10 melhores alunos”, reuniu os instrumentos de que precisava. Primeiro virou-se para a bolsa de valores, depois arranjou coragem para se dedicar às apostas desportivas.

A namorada da altura teve dificuldade em entender a escolha. “Ela, como as outras meninas, precisava de estabilidade e projetos, e eu não lhe conseguia garantir nada disso. Já achava que podia viver acima da média, mas não lhe podia garantir nada. Não era um emprego fácil de aceitar”.

Socialmente, sempre foi incompreendido. Até há bem pouco tempo, o pai preferia dizer que o filho trabalhava na área da Internet. “Houve alguma resistência da parte da família”. No início, “quando dizia que era apostador profissional, as pessoas tinham pena de mim, pensavam que trabalhava numa cave com mafiosos. Agora, Já não têm pena de mim e ainda me invejam, no bom sentido”.

De qualquer modo, desengane-se quem pense que se trata de uma questão de sorte. “O jogo é uma fonte de prazer e tem de ser pago. A maior parte dos apostadores perde dinheiro. Só uma minoria consegue ganhar e uma minoria dentro da minoria ganha de forma consistente”. Mais: “Dá muito trabalho pôr o dinheiro a trabalhar para nós”. E insiste que esta atividade “não é para toda a gente”.

Hoje, foca o seu trabalho na variação do valor da aposta e usa robôs, software apropriado, que apostam por ele. E decidiu ter um papel interventivo no direito dos jogadores. Em 2012, criou a associação não só para influenciar a criação de legislação favorável ao apostador, como também para combater a ludopatia. “Aqueles que apostam sem parar, compulsivamente, já não o fazem com prazer”.

Defende a regulação, segundo a qual, por exemplo, quem paga impostos são as casas de apostas e não os jogadores, e o crescendo de sites legais. Só assim haverá concorrência ao mercado encoberto. “Se os prémios são maiores (nos sites ilegais, porque não pagam impostos), tornam-se mais atrativos”.

Download PDF da reportagem – páginas 8 e 9 – JN de 29/08/2016

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