Orgulho em voltar a Rio Tinto
Tem 29 anos, nasceu no Porto, viveu e estudou em Rio Tinto. Consegue ganhar dez mil euros só de uma vez em apostas desportivas ‘online’. O dinheiro nem sempre fez parte da sua vida mas agora o ‘trader’, que viaja semanalmente do Porto para Madrid e Londres, é profissional em apostas na Internet que realiza durante os jogos de futebol espanhóis, ingleses e portugueses. Passou grande parte da infância a jogar futebol na Quinta das Freiras e estudou na Escola Secundária de Rio Tinto durante dois anos. Agora, reúne-se esporadicamente com os amigos para jogar futebol na cidade que o acolheu, onde passeia o seu Ferrari 355 F1.
Vivacidade (VC) – Sempre viveu em Rio Tinto?
Paulo Rebelo (PR) – Não, eu sempre vivi no Porto. Na altura, o meu pai foi trabalhar para fora, eu estava sozinho – vivia sozinho quando tinha 15 anos – e a minha tia vivia em Rio Tinto. Para não continuar a viver sozinho, vim viver para casa dela. Andei na escola Secundária de Rio Tinto, dois anos, depois tentei entrar para a faculdade – não entrei – e voltei à escola para fazer melhorias. Depois, ainda estive a viver mais dois anos em Rio Tinto. Portanto, devo ter vivido mais ou menos quatro anos em Rio Tinto. Fiz muitos, muitos amigos. A prova disso é que ainda hoje venho jogar [futebol] aqui a Rio Tinto porque a maior parte dos meus amigos é daqui.
(VC) – Em que medida é que a passagem por Rio Tinto influenciou a vida que actualmente leva?
(PR) – Honestamente, em nada. Mas o que posso dizer é que, na verdade, foram os anos que eu mais gostei, durante o meu percurso escolar. Digo isto honestamente, não é por ser de Rio Tinto. A diferença é que no Porto estudei em escolas maiores e não dava para fazer as coisas que dava para fazer em escolas mais pequenas como a de Rio Tinto. Era completamente diferente. E, como os meus colegas e eu morávamos todos perto da escola, dava para ter uma proximidade muito maior. Fui muito feliz, sobretudo nesta escola. Nós agora até vamos fazer um reencontro de colegas e eu, no meu tempo, beneficiei de várias viagens de estudo. Portanto, tenho mesmo saudades. Esse convívio com os meus colegas fez de mim uma pessoa melhor, sem dúvida.
(VC) – Depois de Rio Tinto, deu ‘um salto’ para a sua rotina actual ou foi construindo a sua carreira gradualmente?
(PR) – Gradualmente. Entretanto, entrei para a faculdade. Tive oportunidade de viver sozinho outra vez, fui viver para o Porto e – como consegui boas notas – tive direito a duas bolsas. Então não tive de trabalhar e tive uma vida calma durante os estudos na faculdade. Tanto que deu tempo para estudar isto das apostas – porque, francamente, não iria deixar um trabalho para me dedicar a isto se realmente não tivesse tanto tempo livre. À medida que fui obtendo ganhos mais consistentes, percebi que era uma oportunidade. O momento que me fez perceber melhor isso foi quando já estava a acabar o curso e – como tinha boas notas – fui convidado para entrevistas de emprego em grandes empresas – algumas ligadas à Banca – e realmente percebi que nenhuma delas me podia oferecer o que já estava a ganhar, nessa altura, com as apostas.
(VC) – Então, quando é que decidiu ir viver para Madrid?
(PR) – Eu fui trabalhando aqui em Portugal. Trabalhei com a Liga Inglesa antes de começarem os jogos e depois percebi que é durante os jogos que se transaciona a maior parte do dinheiro e é aí que estão as grandes oportunidades para ganhá-lo. A maneira de trabalhar durante os jogos é completamente diferente da maneira de trabalhar antes dos jogos começarem e, por isso, demorou algum tempo a entrar no ritmo. Percebi, aí, que tinha uma vantagem muito grande em trabalhar com a Liga Portuguesa porque tinha de ver os jogos com pouco atraso [na emissão]. Aqui, os jogos que se passam em Portugal chegam a Portugal primeiro. Só depois chegam a Espanha, só depois chegam a Inglaterra, e o contrário também. Tinha, por isso, uma vantagem muito grande em trabalhar com os jogos localmente. Entretanto, fui para Vigo para trabalhar com os jogos espanhóis e vi que a equipa que me dava mais dinheiro era o ‘Deportivo de La Coruña’ e, na segunda divisão, o ‘Celta de Vigo’. Então, pensei: “Se estou na Galiza assim, em Madrid tenho o ‘Real Madrid’ e o ‘Atlético de Madrid’. Tenho de me mudar para Madrid para trabalhar.” Trabalho com a Liga Inglesa já há muito tempo, mas gosto mais de trabalhar com a Liga Espanhola. Oficialmente, vivo em três sítios neste momento. Em Madrid é onde trabalho mais, em Inglaterra tenho lá a minha família e aqui no Porto tenho também família e grande parte dos meus amigos. Ando sempre dividido entre estas três cidades mas agora tem-me dado mais vontade de assentar um pouco.
(VC) – Já é reconhecido mundialmente no mundo das apostas. Qual é o segredo para tanto sucesso?
(PR) - Não tenho uma resposta simples para isso. Eu acho que o meu sucesso no ‘trading’ é resultado de uma série de factores. Um é algo inato que nasceu comigo. Este gosto pelo futebol e esta capacidade que eu tenho em analisar os jogos não aprendi em nenhum lado. Juntando a isso, todo o percurso profissional que eu tive antes com acções ajudou-me a perceber o mercado das apostas. E depois, provavelmente, também contribuiu a vida que tive. Tive uma vida difícil, comparando com a maior parte dos meus colegas. A minha família era pobre e sempre tive que trabalhar para poder estudar. Fiz trabalhos duros e acho que isso foi muito importante para perceber o que não quero fazer. Então quando tive esta oportunidade, agarrei-me – se calhar mais do que uma pessoa normal – porque era muito diferente do que aquilo a que estava habituado a fazer.
(VC) – A hipótese de ‘acabar’ em Rio Tinto com a sua família está ou não descartada?
(PR) – Não. Ainda sou jovem e sei que ainda consigo ter esta vida, mas também sei que é uma coisa que não vou poder ter para sempre. E sem dúvida que, de todos os sítios que eu poderia escolher para ficar, Portugal é o topo das prioridades. Estou-me a ver, quando for velho, a ter aqui a minha casinha e ficar aqui descansado.
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- 2 Comments
Mário Venade
Muito orgulho em ver um português com este sucesso, tanto pessoal como profissional! Para além disso, o fato de ser nortenho e de ter vivido em vigo são pontos de convergência com a minha pessoa! Saudações
Álvaro Cunha
Olá ,Paulo Rebelo Pinto
Há dois dias que passo a entender, devagar, o trading esportivo, sobretudo relativo ao futebol.
Ao que parece, apostar durante o jogo escolhido, proporciona muito mais oportunidade de ganhos sucessivos, considerando, claro, o estudo feito antecipadamente e com atenção aos detalhes ou pontos cruciais do match.
Parabéns pela sua lição de vida que dá a todos, sobretudo aos jovens como você.
Sucesso no seu empreendimento enquanto trader.
Quanto a mim, pretendo aprender a analisar com qualidade as equipes de cada jogo, inclusive aqui do Brasil, considerando a nossa tradição e grandiosidade futebolista.
Quiçá um dia a gente se encontra.
Um abraço.