Entrevista Jornal Record – Jogos-fantasma no Brasil

Fui convidado pelo jornal Record para tentar dar resposta ao caso dos jogos-fantasma que se tornou mediático no Brasil.

Como sabem esta crise pandémica que estamos a viver fez com que a esmagadora maioria dos campeonatos fossem suspensos o que também resultou na diminuição do volume de apostas a nível global. Portugal não é exceção, onde o mercado registou um a quebra de 90 por cento, segundo as casas de apostas registadas no país.

No entanto, no meio de tudo isto, houve quem conseguisse fazer muito dinheiro com apostas num suposto jogo de preparação que, em teoria, ocorreu no início de abril e colocou frente a frente o Andraus, da 2ª divisão do Paraná, e o Serrano, da 2ª divisão da Paraíba.

Este caso encontra-se em investigação pois estima-se o valor das apostas ronde os 10 milhões de reais (1,6 milhões de euros).

“Quem está a ganhar com isso e como?”

Foi com esta pergunta, feita por Pedro Trengrouse, membro da Aliança Global pela Integridade do Desporto, que o Jornal Record me contactou. Deixo-vos as minhas respostas.

“Não são as casas de apostas que recolhem os resultados, são empresas externas que fazem esse trabalho. Imagino que sejam essas empresas a ser corrompidas, pessoas que digam que o jogo está a acontecer, mesmo ele não se realize”. “Era possível fazer esta fraude sem que os clubes tenham conhecimento do que está a acontecer.”

Não é o caso, pois pelos vistos os clubes estão também envolvidos, mas o esquema mantém o seu princípio, apenas agrega mais intervenientes.

“Meramente no campo das hipóteses, se eu, enquanto apostador, soubesse que o resultado do jogo ia num determinado sentido, poderia ganhar dinheiro suficiente para corromper os dois clubes e ainda o funcionário do ‘feed’ de resultados”.

Por exemplo, “Se eu apostar um milhão para ganhar dois milhões, dou cem mil a um clube, cem mil ao outro clube, 50 mil ao funcionário da empresa que recolhe os resultados e ainda fico com um lucro de 750 mil”.

Não é fácil identificar os autores destes esquemas fraudulentos, mas certamente são obra de redes criminosas internacionais, já que, para que os jogos sejam validados e admitidos pelas casas de apostas, é necessário ter ligação ao mais alto nível no seio deste negócio que movimenta diariamente muito milhões de euros.

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