Quarta crónica de Paulo Rebelo na revista Penthouse Portugal.

“Apostar no clube do coração.”

Edição portuguesa de Março de 2012.

Confesso que hesitei em publicar esta crónica, uma vez que quem segue o meu trabalho sabe que insisto para que, quem está a iniciar-se no mundo das apostas, não aposte no clube do coração.

Mas, desta vez, partilho convosco uma sensação que é exclusiva dos apostadores: há coisa que nos induza mais felicidade do que o nosso clube do coração marcar um golo tendo nós apostado nesse jogo a favor da nossa equipa? Que momento de união entre apostador/adepto e a equipa! Por momentos temos a certeza que fazemos parte da equipa porque acreditamos nela. E os jogadores, como agradecimento, brindam-nos com um golo.

Dos jogos mais especiais com que trabalhei, alguns envolvem o Benfica a ganhar a algumas equipas na Liga dos Campeões. É um orgulho e é uma sensação única que só quem é apostador alguma vez viverá.

Partilha feita, insisto que, por experiência própria, sobretudo quem se está a iniciar nas apostas, não deve apostar no clube do coração.

Durante muito tempo tive saldo negativo com o Benfica, pois julgava sempre que este ia ganhar. Mesmo que estivesse a perder por 2-0, eu pensava que o mais provável era o Benfica marcar 3 golos e ainda ganhar o jogo. Erro!

Tal como os jogadores profissionais de futebol nasceram com um dom para jogar à bola e o potenciam melhorando as suas capacidades nos treinos, os apostadores têm de ter um dom para conseguir prever o desenrolar de um jogo mas poderão somar-lhe um conjunto de técnicas que irão potenciar os resultados do dom natural.

Uma das técnicas que se vai desenvolvendo com o tempo é o controlo emocional e a capacidade de nos afastarmos emocionalmente de um jogo de forma a sermos capazes de o analisar de um ponto de vista exclusivamente racional.

Quando atingirmos um certo grau de maturidade enquanto apostadores, estaremos aptos para trabalhar com o nosso clube do coração e poder, assim, viver de forma regular a experiência relatada no início desta crónica.

Posso partilhar convosco, em jeito de conselho, algo em tudo semelhante que se passou comigo quando comecei a trabalhar com a liga inglesa. Uma vez que não conhecia tão bem aquelas equipas e desenvolvi laços afectivos com elas porque me foram dando dinheiro ao longo do tempo, passei a pensar, inconscientemente, que as equipas inglesas iam ganhar todos os jogos que jogavam para as competições europeias. Ou seja, contra outras equipas com as quais não tinha laços afectivos.

Demorei algum tempo a perceber o que se estava a passar, mas a leitura dos resultados não deixava dúvidas: saldo negativo no global dos jogos das equipas inglesas para as competições europeias.

Perante um caso destes, aconselho a parar de apostar por um tempo nestes jogos (foi o que eu fiz).

Posteriormente, quando se sentir preparado, voltar novamente e de forma gradual a jogos com “equipas emotivas” estando ultra-concentrado no objectivo principal do jogo, que é conseguir fazer uma análise 100% racional do encontro.

Estará preparado para apostar em jogos do clube do seu coração no dia em que conseguir ganhar dinheiro apostando que o seu clube perde, mas é uma das mais estranhas sensações pela qual irá passar na vida.

Vai dar por si a repetir para dentro: “Não sou um traidor, sou um profissional. E o facto de ter apostado contra o Benfica não fez com que o Benfica perdesse… Vou pagar as quotas hoje!”

A entrevista completa está disponível em aqui para download.

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