No mundo das apostas nem tudo é uma questão de sorte ou azar. Estudar as equipas, analisar os jogos e o mercado podem fazer deste “jogo” uma forma de vida rentável, como prova Paulo Rebelo. O factor risco está, no entanto, sempre presente

Paulo Rebelo, apostador profissional

A primeira pergunta é inevitável. Apostaria na vitória de Portugal no Euro?
Tendo nós o melhor jogador do torneio – nesta altura haverá dúvidas se é o melhor do Mundo ou não, é discutível – temos possibilidades de chegar longe.

Mas qual das selecções é, para si, a principal candidata à vitória?
Eu não sou diferente da maioria. Nesta altura, as três principais selecções acho que são unânimes. A Espanha, vencedora do Campeonato da Europa e do Mundo é, necessariamente, a favorita à conquista do título. As outras são a Alemanha e Holanda, que estão no grupo de Portugal, um grupo difícil. Mas Portugal está entre as seis com mais possibilidades de vencer o Europeu.

É difícil separar as emoções das apostas?
Sem dúvida. O meu histórico de jogos com Portugal é, apesar de tudo, positivo. Mas o meu histórico com o meu clube do coração, o Benfica, é negativo. Perdi mais do que ganhei com o Benfica precisamente porque não fui capaz de separar o coração da razão. Por isso, provavelmente, de todos os jogos do Euro, os de Portugal serão para desfrutar com os amigos, e os outros para apostar, isto porque quero muito que Portugal ganhe.

Como é que se consegue ganhar dinheiro com as apostas? Ou melhor, apostar na vitória de uma selecção basta para se ganhar muito dinheiro?
Pode bastar. As apostas têm várias vertentes. Ou seja, antes dos jogos começarem diz-se que determinada equipa vai ganhar, faz-se a aposta e espera-se que essa equipa ganhe o jogo. Se os palpites estiverem mais vezes certo do que errados, é possível ter-se ganhos consistentes e, consoante o valor da aposta, ganhar-se dinheiro para se viver só das apostas. Esta vertente, chamada de “punting”, é baseada nisso

Mas não é isso que faz.
Eu trabalho noutra vertente que é a de “trading”. Para fazer “trading” é necessário estar numa bolsa de apostas, como é o caso da BetFair, que é a maior bolsa de apostas das casas de apostas. Aqui nós podemos apostar ao contrário, que é o equivalente a ter uma posição curta sobre uma acção na bolsa. Não é tão complicado como fazer um “short” na bolsa. Ou seja, aquilo que eu tento fazer é ganhar dinheiro com a variação da aposta e não com a aposta em si.

Qual é o “trigger”, no jogo, para fazer essas apostas?
Depende sempre de duas análises que faço em simultâneo que correspondem, no mercado de acções, à análise técnica e a fundamental. Durante um jogo estão a acontecer duas coisas em simultâneo: o jogo e o mercado, que está correlacionado com o que se está a passar no jogo, mas não a 100%. Eu tento ganhar dinheiro juntando as duas análises. O jogo diz-me que a probabilidade de determinada equipa vencer vale X e o mercado das apostas diz que vale Y. Juntando os dois, consigo prever a tendência do valor da aposta e tento aproveitar essa variação. Imagine que, em determinado momento do jogo, uma equipa está a jogar melhor. O comentador da rádio diz: “cheira a golo, cheira a golo, a Alemanha está a crescer”. Nessa altura, eu quero estar com o meu dinheiro ao lado da Alemanha. Com o “trading”, é sempre possível estarmos do lado da aposta que tem mais valor.

Mas também é preciso ter dinheiro para fazer aquilo que faz?
Pelo contrário. Quanto mais dinheiro tiver nas apostas, mais difícil é obter rentabilidade por cada euro apostado. Mas, é fácil de entender. Quanto mais dinheiro se tiver numa aposta, mais difícil é conseguir fechar essa aposta. Vai obrigar a que se fique exposto a uma aposta durante mais tempo, quando não é isso que se quer.

Quanto é que aposta, em média, num jogo de futebol?
A resposta depende do jogo, depende da liquidez que o jogo tiver. Nos grandes jogos, deve rondar os 700 a 800 mil euros. É isso que eu aposto. Mas eu nunca fiz uma aposta de 800 mil euros. É o dinheiro que se vai colocando no jogo. Por exemplo, se eu comprar uma aposta por cinco mil euros e depois vendê-la mais tarde, por um valor maior, mais cinco mil euros euros, ganhei dinheiro com a variação, e já apostei 10 mil euros, mas o meu risco nesta operação foram apenas os cinco mil euros.

É isso que está explicado neste livro?
Este livro tem algumas das técnicas que nós podemos utilizar nas apostas. É direccionado, sobretudo, para aqueles apostadores que querem começar. Mas tem algumas dicas para apostadores mais experientes. No fundo, o livro é um conjunto de técnicas que decidi partilhar, de acordo com a minha experiência.

Isto é para aplicar já no Euro 2012?
É possível. O Euro 2012 tem a particularidade que para fazer aquilo que eu ensino a fazer no livro, que é o “trading”, tem uma vantagem enorme que é a liquidez. Há muita gente a ver o jogo, não só na Europa, em todo o Mundo. É um evento global. Há muito dinheiro em jogo.

Em que competição se consegue ganhar dinheiro? É num campeonato, num Euro, num Mundial?
O dinheiro, normalmente, está correlacionado com o número de pessoas que vêem o jogo. Eventos mundiais têm, obviamente, mais espectadores, logo mais liquidez. O Mundial tem sempre mais liquidez que um Euro, mas há jogos como um Barcelona contra o Real Madrid, que é visto em todo o Mundo, que movimentam muito dinheiro.

O campeonato espanhol é o que movimenta mais dinheiro, ou não?
Não. É o inglês porque além de, provavelmente, ser a melhor liga do mundo, há o facto da cultura das apostas estar muito enraizada em Inglaterra. A procura interna contribui muito para a liquidez nos jogos.

E como é o cenário das apostas desportivas em Portugal?
Quando comecei, havia muito menos dinheiro nas apostas. Agora há mais. A comunidade cresceu bastante, muito à conta da ilusão de poderem vir a ser jogadores profissionais. Mas nem todos vamos conseguir obter ganhos consistentes. E menos ainda são aqueles que conseguem passar a profissionais. É possível que as pessoas interiorizem uma série de técnicas que os ajudem a serem melhores apostadores, mas se conseguem ou não ganhar dependerá da qualidade inata de cada um.

No livro não está a dar a receita para que todos consigam chegar onde chegou?
Não posso fazer isso. É como o Cristiano Ronaldo. Pode ver-se o Ronaldo a marcar um livre 100 vezes que não se vai conseguir marcar como ele. É o talento natural. A forma como eu ganho nas apostas depende, sobretudo, da interpretação que eu faço do jogo, do mercado. A decisão vem de mim. É arte.

Qual foi, até hoje, o jogo que mais dinheiro lhe rendeu?
Foi uma que está no livro. Foi uma aposta com a qual ganhei 36 mil euros com um golo de canto, no último minuto, do Atlético de Bilbao contra o Getafe. Eu preparei o jogo, sabia que o Bibao, naquela altura, tinha uma alta eficácia nos lances de bola parada. Eu apostei menos de mil euros em como seria golo nesse último canto e, como foi, ganhei esses 36 mil euros.

Tem 30 anos. Tem dinheiro… É isto que se vê a fazer para o resto da vida?
Sim. Eu nem digo que é um trabalho, digo que é um emprego que eu gosto muito porque não sinto que trabalho. Aquilo que eu faço realiza-me plenamente. Eu trabalho lendo os jornais, vendo os jogos, mas isso é o que eu já fazia antes de me pagarem para isso. Antes de ser profissional. É uma coisa que faço com muito gosto e não vejo fim à vista.

Tirou um curso de gestão. Nunca o pôs o em prática.
Falta-me uma cadeira que não cheguei a fazer porque o exame calhava sempre numa final de uma Liga dos Campeões, de um Europeu. O período em que eu tirei o curso coincidiu com o meu início nas apostas. Já ganhava, nas apostas, aquilo que, percebi, nenhuma empresa me conseguiria oferecer na altura. Somando a isso o facto de ser eu o meu próprio patrão, não aceitei os convites que tive para ir para bancos e seguradoras.

Começou novo neste mundo das apostas. Antes, esteve ligado ao mercado accionista. O que é mais arriscado, a bolsa ou as apostas?
As apostas. São como uma opção. Sabemos que há um prazo e, no final desse prazo, ou vale X, ou não vale nada. A bolsa não tem 90 minutos. Mas eu, desde o principio, consegui um retorno maior nas apostas do que na bolsa. Como eu, há alguns “traders” profissionais de acções que se mudaram para as apostas. E eu identifico três razões para isso. Uma é que, em termos fiscais, em Londres, onde vivo, não se paga impostos pelo dinheiro ganho nas apostas, ao contrário do que acontece com as acções. Em segundo, é uma relação causa/efeito mais fácil de entender do que nas acções, que é um mundo mais complexo. Um exemplo rápido: se o Messi se lesiona, só tem uma interpretação que é a de que é mau para o Barcelona e é mau para a Argentina. O terceiro factor é que é mais divertido. É mais divertido ver um jogo do que analisar os balanços das empresas.

“Ganhar com as apostas desportivas” é o título do primeiro livro do mais conhecido apostador profissional português. Chama-se Paulo Rebelo, tem 30 anos, mas já leva vários no mundo das apostas. Começou quando estava ainda na faculdade.

Correu bem e continua a ter sucesso. Tanto, que agora quis partilhá-lo através de um livro que mais parece um guia prático para aqueles que pretendem tentar tirar partido do mundo das apostas desportivas.

Na obra, encontrará várias dicas, baseadas em experiências reais, que podem ser úteis para quem ainda agora está a dar os primeiros passos neste mundo, como para aqueles que já estão mais familiarizados com o “1X2″ das casas de apostas.

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